Mais de 24,6 milhões de pessoas, ou metade da população do Sudão, enfrentam elevados níveis de insegurança alimentar aguda, de acordo com a iniciativa IPC, que monitoriza a fome extrema no mundo.
O Comité de Revisão da Fome confirmou a presença da fase 5 de fome em pelo menos cinco áreas, incluindo o campo de Zamzam, no Norte do Darfur, e partes das Montanhas Nuba Ocidentais.
Programa de apoio essenciais
Prevê-se que a crise se alastre ainda mais, atingindo cinco áreas adicionais, nas localidades de Um Kadadah, Melit, El Fasher, At Tawisha e Al Lait, no norte do Darfur, até maio de 2025. Outras 17 outras estão em risco de fome, especialmente aquelas com fluxos significativos de deslocados internos.
As regiões afectadas incluem partes dos estados do Norte e do Sul do Darfur, Cartum e Al Jazirah.
Preocupado com o rápido agravamento da situação, o Secretário-Geral da ONU afirmou que a organização e os parceiros estão a intensificar a assistência alimentar e outros programas de apoio essenciais.
No terreno, os combates e as restrições à circulação de mantimentos e pessoal de socorro comprometem as operações de ajuda.
Cessação imediata da violência para salvar vidas
António Guterres reitera o seu apelo às partes para que facilitem o acesso rápido, seguro, desimpedido e sustentado para que a assistência humanitária e o pessoal possam chegar às pessoas necessitadas onde quer que estejam.
O secretário-geral enfatizou ainda a necessidade de uma cessação imediata das hostilidades para salvar vidas e evitar que a crise no Sudão, e o seu impacto nos países vizinhos, se agrave ainda mais em 2025.
O chefe da ONU apela ao apoio e cooperação internacionais urgentes para aproximar as partes de uma resolução pacífica do conflito através de um cessar-fogo duradouro e aumentar o financiamento para a ação humanitária.
Sofrimento humano
O relatório destaca que a fome é manifestação mais extrema do sofrimento humano, representando um colapso catastrófico dos sistemas como a saúde, os recursos essenciais, incluindo meios de subsistência e estruturas sociais, deixando comunidades inteiras em desespero.
Embora as chuvas acima da média tenham apoiado a agricultura em áreas onde as condições de segurança o permitiam, o conflito em curso perturbou gravemente as atividades agrícolas.
Os agricultores foram obrigados a abandonar os campos e as colheitas saqueadas ou destruídas, segundo o documento. As famílias deslocadas, especialmente as que vivem em povoações e edifícios públicos, continuam excluídas dos benefícios da colheita.
Como resultado, 8,1 milhões de pessoas estão em situação de emergência ou malnutrição grave (fase 4 do IPC) e 638 mil em situação de malnutrição extrema ou catástrofe (fase 5), somando-se a 15,9 milhões em situação de crise (fase 3) marcada por lacunas alimentares criticas ou pela dependência de estratégias de crise.
Vetor principal
O conflito brutal, que eclodiu entre militares rivais que disputavam o poder e a influência em abril passado, obrigou mais de 12 milhões de pessoas, quase um quarto da população do Sudão, a abandonar suas casas, exacerbando a insegurança alimentar e sobrecarregando as comunidades anfitriãs.
Os combates ferozes continuam a ocorrer em áreas densamente povoadas, com um desrespeito generalizado pelo direito internacional humanitário pelas partes. Um número esmagador de civis foi morto e ferido, a violência sexual é generalizada e as infraestruturas essenciais, incluindo hospitais e escolas, estão em ruínas.
Doenças mortais como a cólera estão também a propagar-se rapidamente, num contexto de rutura de serviços essenciais, incluindo cuidados de saúde, água potável e saneamento.
Recomendações
O relatório faz apelo a uma cessação imediata da violência para evitar o agravamento da crise, à restauração do acesso humanitário seguro, sem entraves e sustentado, especialmente em zonas de conflito e aumento significativo da assistência humanitária multissetorial.
A intensificação do tratamento da malnutrição aguda, fornecimento de insumos agrícolas vitais para ajudar as famílias vulneráveis a sustentarem-se, bem como à realização de inquéritos sobre segurança alimentar e nutrição em áreas não avaliadas para refinar os esforços de resposta.