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“Clima ameno” e olhar para o futuro marcam celebração da língua portuguesa

Diplomatas e funcionários das Nações Unidas juntaram-se nesta segunda-feira em momento por várias vezes destacado como “clima ameno” de celebração da língua portuguesa.

Literatura e música envolveram os participantes que tiveram a chef Teresa a cargo de gerir pratos típicos da noite. Ela convidou o mundo através da ONU News a fazer uma imersão nos sabores da culinária lusófona, refletindo costumes de vários povos.

Mais de 280 milhões de falantes 

“Temos empanadas, brigadeiros, peixinho, pastéis de nata de Portugal, bolinhos de bacalhau e empanadas de bacalhau”.

Na ONU, o dia 5 de maio é celebrado pelo 15º ano pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Cplp. A data é comemorada pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, pela quinta vez, homenageando o universo de mais de 280 milhões de falantes.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, abriu o evento enfatizando a união entre povos que falam o português, cujo idioma e relevância estão “em evolução continua”.

“Em todos estes esforços contamos com o apoio inabalável da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Enquanto primeiro-ministro de Portugal, tive o privilégio de participar na criação desta Comunidade há quase 30 anos. Hoje, os valores do diálogo e da solidariedade no centro desta instituição são mais relevantes do que nunca.”

Povos com uma visão comum

Falando à ONU News, o embaixador de Angola nas Nações Unidas, Francisco José da Cruz, associou a festa a um vínculo lusófono marcado pelo reforço das relações entre povos com uma visão comum.

“O dia de hoje é um dia de reflexão, sobre onde estamos e para onde podemos ir, num mundo cada vez mais globalizado e mais complexo em que devemos estar melhor organizados para defender os nossos interesses e a nossa gente. É um dia que Angola considera muito importante para todos os países falantes da língua portuguesa. E essa base da língua deve constituir uma plataforma importante para reforçar os laços e a cooperação para os desafios presentes e futuros.”

Secretário-geral da ONU, António Guterres, abriu o evento enfatizando a união entre povos que falam o português

Secretário-geral da ONU, António Guterres, abriu o evento enfatizando a união entre povos que falam o português

O evento reunindo a Comunidade de Países de Língua Portuguesa em Nova Iorque teve o Brasil como coordenador principal.  O embaixador brasileiro Sérgio Danese fala de uma celebração de progressos em vários campos.

“Nós temos atividade intensa participando dos diversos debates e nas diversas decisões. Nós estamos trabalhando também para um perfil mais elevado da língua portuguesa, da cultura dos nossos países. Estamos fazendo aqui e com uma grande afluência do público e o secretário-geral nos deu a honra da sua presença e os vários embaixadores. Nós estamos hoje confiantes de que cada vez mais vamos trabalhar por prestígio maior da língua portuguesa em favor do multiculturalismo e multilinguismo”.

Futuro promissor

Portugal é o berço da língua e aponta um futuro promissor para o idioma. A embaixadora Ana Paula Zacarias ressalta a importância de ampliar a presença no meio digital seguindo o progresso de novas tecnologias como inteligência artificial.

“Gostaríamos muito que a língua portuguesa, que hoje é falada por cerca de 280 milhões de falantes em todo o mundo, e é a primeira língua mais falada no Hemisfério Sul, pudesse em breve poder fazer parte das línguas de trabalho Aqui nas Nações Unidas. Esse é um desiderato para o qual estamos trabalhando em conjunto. Outra área que é da maior relevância tem a ver com o português na área digital, ou seja, trabalhar para que nossa língua esteja também assegurada nas grandes plataformas que depois vão contribuir para a construção da inteligência artificial, para que a língua portuguesa seja também uma língua do futuro na área digital.”

Cabo Verde ressalta a união dos países falantes do português e a força da convivência com outras línguas dentro das nações da Cplp. A embaixadora Tânia Romualdo fala de um exemplo de entendimento. 

Umas línguas oficiais nas Nações Unidas 

“Nos conecta ao mundo. Neste momento nós somos um grupo de comunidades em número bastante expressivo. Ultrapassamos, inclusive, o número de falantes de espanhol, que é umas línguas oficiais nas Nações Unidas. Essa razão nos leva também a lutar para que o português venha a ser uma língua oficial a nível desta grande organização mundial. A língua portuguesa convive com outras línguas maternas, mas elas não se excluem uma às outras. Aliás, complementam-se.”  

Timor-Leste aponta o português como língua de resistência à ocupação e 5 de maio como celebração do referendo que definiu o futuro do país. O embaixador de Timor-Leste, Dionísio da Costa Babo Soares, disse que essa força é gradualmente cimentada.

“Timor-Leste é um membro da Cplp. Mesmo que esteja distante dos outros países lusófonos. Sabe que a nossa língua oficial é a língua portuguesa. Fomos uma colônia de Portugal. O 5 de maio tem uma relação intimamente ligada ao nosso país. O português tem vindo a ser uma língua colonial e passou a ser língua da resistência contra as ocupações externas e agora é oficial. A introdução da língua portuguesa está a decorrer muito bem, mesmo que haja grandes dificuldades e ao mesmo tempo desafios. O 5 de maio não é somente o Dia da Língua Portuguesa, mas o Dia em que Portugal e a Indonésia, sob os auspícios das Nações Unidas, concordaram em fazer o referendo em 1999. Por isso, em Timor-Leste celebramos também 25 anos do referendo em que Timor decidiu ser independente e membro da Cplp.” 

O representante de Moçambique, Pedro Comissário, fala de oito estados que celebram um instrumento comum de cooperação.

Moçambique preside o Conselho de Segurança das Nações Unidas onde ingressou há mais de um ano. O vínculo com nações do bloco lusófono é tido em conta nas posições dadas pelo país em questões de estabilização.

Meninos Cantores do Município de Trofa

“A importância fundamental da Cplp consiste em que, pela primeira vez na história, institucionalizamos a igualdade soberana de países e povos que antes estavam divididos pelo colonialismo, pela opressão, pela ditadura e pelo fascismo. Portanto, o dia de hoje traduz esse espírito de coletividade, de solidariedade, de amizade entre os nossos povos e de um projeto futuro de cooperação ainda maior.

A celebração foi marcada por músicas interpretadas de maneiras que impressionaram os participantes. O grupo coral infantil Meninos Cantores do Município de Trofa, de Portugal, interpretou canções de autores de cada um dos países-membros da Cplp.

Na noite de festa foi anunciada ainda a criação da seção de livros de língua portuguesa na Biblioteca das Nações Unidas. Mais de 100 obras de autores lusófonos foram colocadas ao dispor do público para apoiar o conhecimento e a cultura mundiais.

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