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Protestos violentos forçam fechamento de agência da ONU em Jerusalém

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, teve que fechar temporariamente sua sede em Jerusalém Oriental, após um incêndio na noite de quinta-feira causado por manifestantes.  

Nesta sexta-feira o secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou veementemente o ato, dizendo que “visar trabalhadores e recursos humanitários é inaceitável e deve parar”.

Vidas de funcionários da ONU sob risco

O comissário-geral da Unrwa, Philippe Lazzarini, disse que “residentes israelenses atearam fogo duas vezes no perímetro” da agência. O pessoal da Unrwa e de outras agências da ONU estavam dentro do complexo naquele momento. 

Segundo ele, uma multidão acompanhada por homens armados estava do lado de fora gritando “incendeiem as Nações Unidas”. Lazzarini disse que este foi “o segundo incidente terrível em menos de uma semana” após um protesto violento semelhante na terça-feira, quando manifestantes atiraram pedras contra o pessoal da ONU e os edifícios.

Não houve vítimas entre o pessoal da Unrwa, mas o incêndio causou grandes danos nas áreas externas. O diretor da agência ressaltou que existe um posto de gasolina no local para servir a frota de automóveis da agência. 

Ele chamou o episódio de “escandaloso”, destacando que “mais uma vez, as vidas dos funcionários da ONU correram sério risco”. 

O diretor da unidade, com a ajuda de funcionários, teve que apagar o fogo sozinho, “pois os extintores e a polícia israelense demoraram um pouco para aparecer”, disse Lazzarini. Ele explicou que tomou a decisão de fechar o complexo “até que a segurança adequada seja restaurada”. 

Palestinos fogem de rafah

Palestinos fogem de rafah

Operação humanitária paralisada

Ao mesmo tempo, segue em curso a operação militar israelense na cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza. Nesta sexta-feira, trabalhadores humanitários da ONU declararam que um cessar-fogo é “a única esperança” para evitar mais mortes e restaurar a entrega de ajuda.

Segundo a Unrwa, “cerca de 110 mil pessoas já fugiram de Rafah em busca de segurança” desde que os bombardeios israelenses se intensificaram no local. 

As agências da ONU informam que desde que os tanques israelenses entraram na fronteira de Rafah, na segunda-feira, a operação humanitária em todo o enclave foi paralisada.

O coordenador sênior de Emergência do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, na Faixa de Gaza, Hamish Young, disse que “a situação irá piorar se as operações humanitárias não forem retomadas nas próximas 48 horas”.  

“Nada nem ninguém entra ou sai de Gaza”

As agências de ajuda relatam que a região enfrenta carência de infraestrutura sanitária, água potável e abrigo. Como resposta, as pessoas estão improvisando banheiros, cavando buracos próximos às tendas, o que está resultando em aumento da prática de defecação ao ar livre.

O subsecretário-geral de Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, disse que durante dias “nada nem ninguém foi autorizado a entrar ou sair de Gaza”.

O encerramento das passagens de Rafah e Kerem Shalom, os principais pontos de entrada para ajuda alimentar, água, combustível e insumos médicos “significa ausência de ajuda”, acrescentou Griffiths.

Ele disse que os suprimentos e equipes da ONU estão presas e que a organização está “impedida de ajudar” os civis que fogem dos bombardeios e confrontos diários.

Nas próximas 24 horas, diversas instalações de saúde ficarão sem combustível. Isso impactará cinco hospitais, 28 ambulâncias, 17 centros de cuidados de saúde primários, cinco hospitais de campanha, 10 clínicas móveis e 23 instalações médicas em Al Mawasi.

Pessoas deslocadas constroem novas tendas na área de Al-Mawasi, no centro de Gaza

Pessoas deslocadas constroem novas tendas na área de Al-Mawasi, no centro de Gaza

Ordens de evacuação

As últimas imagens de Rafah fornecidas pela Unrwa mostram um fluxo constante de pessoas abandonando o leste da cidade com carros, motos e carroças puxadas por burros cheios de pertences, como consequência das ordens de evacuação dos militares israelenses.

A maioria dos deslocados procura segurança em Khan Younis e Deir al Balah. No entanto, as equipes de ajuda afirmam que estas áreas carecem dos serviços básicos necessários para apoiar os civis que necessitam de comida, abrigo e cuidados de saúde.

As estradas para a zona costeira de Al-Mawasi, para onde os habitantes de Gaza foram instruídos a deslocar-se, “estão congestionadas”, disse o representante do Unicef. 

Falando de Rafah para jornalistas em Genebra, ele descreveu cenas desesperadoras. Segundo Young, as pessoas estão “exaustas, aterrorizadas e sabem que a vida em Al-Mawasi será, novamente, ainda mais difícil”. 

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